Rise & Realize
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Tradução, adaptação e revisão do Coreano para o Português (Brasileiro) dos textos e das ilustrações foram feitas exclusivamente pela equipe da RIIZE BRAZIL.
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¹Uma odisseia em tempo real: Odisseia tem sua etimologia atribuída ao nome “Odysseus”, pertencente a um herói grego, rei de ítaca, que foi batizado pelos latinos de Ulisses. O termo popularizou-se graças a um famoso poema épico, escrito pelo poeta Homero, que contava a trajetória do herói mencionado através de 24 cantos ou rapsódias. A palavra odisseia possui, desde a sua origem na antiguidade clássica, sinônimo equivalente a “Uma história permeada por aventuras, contratempos e acontecimentos extraordinários”.
¹Realtime Odyssey - 1º Temporada.
Parte 1 - ²Nós estamos presos dentro das nossas mentes.
Capítulo 1
(1) Saudações.
“Você prefere arranjar um emprego de meio período do que só estudar?”
No passado, ele estava habituado a escutar, até que seus ouvidos ficassem dormentes, repetidas vezes a mensagem incômoda que o dizia para ir estudar. Contudo, hoje em dia ela já não lhe é mais tão familiar, tendo em vista que é a palavra “tempo” que está gravada em sua mente ultimamente.
Para Sohee, o “trabalho de meio período” se tornou algo tão importante quanto o horário que tirava para ir “estudar".
Ele precisou arranjar um emprego para arrecadar dinheiro suficiente para se matricular numa escola de música.
“(...) Se você não gosta que seu filho tenha um trabalho de meio período, não é mais fácil você mesma pagar pela matrícula dele na academia de música?… (...)”
Ele, entretanto, não podia compartilhar com a mãe dele esses pensamentos que vinham à cabeça. Ela parecia muito cansada nos dias atuais, porque sempre estava ocupada com o próprio serviço numa empresa.
Sohee, que sentia as pernas dormentes, levantou e se dirigiu a saída de seu quarto, fazendo um gesto mudo para abrir a porta do cômodo.
Ele deixou o recinto de forma sorrateira, tomando cuidado com a maçaneta para que ninguém ouvisse o barulho emitido por ela. Primeiro a girou totalmente e depois encostou a esquadria sem fazer qualquer som, repousando por alguns segundos na madeira para liberar um suspiro após ter concluído a tarefa.
Assim que se certificou de que todos na moradia estavam adormecidos, Sohee abandonou sua própria residência em silêncio.
Não havia um lugar específico que queria estar, apenas saiu de casa para tentar buscar um pouco de ar fresco.
(...) Na melhor das hipóteses, o quão longe poderia ir com ₩ 10.000? (...)
Somente ao imaginar quanto seria a tarifa de táxi para se transportar, ida e volta, a qualquer lugar, perdeu toda a vontade que sentiu antes de se locomover. Desejou se tornar um adulto logo, para que tivesse a opção de dirigir por aí em dias totalmente frustrantes como esse.
Depois de muito refletir, ele foi parar em um parque perto da casa dele.
Ficou um tempo apenas encarando os equipamentos de musculação e exercício físico da academia ao ar livre, situada ao seu redor, e depois deitou no supino para observar as nuvens passarem com agilidade pelo céu noturno.
Foi então que…
“Sohee, é você?”
Ele pulou assustado, antes de se virar em direção ao chamado.
O professor da escola de música, a qual tinha se matriculado há poucos dias, se encontrava ali no parque também.
“É você, não é?”
O mesmo se aproximou dele com um sorriso amigável e questionou se ele se locomoveu até ali para malhar. A barba muito bem aparada brilhando sob a luz da lua.
“Ah, eu vim aqui apenas para pegar um pouco de ar fresco… E o senhor, professor?”
O homem sacudiu uma lata de cerveja, para sinalizar que estava bebendo, e balançou os ombros. Pediu para se sentar também e, quando recebeu a permissão, se acomodou num espaço à esquerda de Sohee, ingerindo o restante da bebida alcoólica de uma única vez sem proferir qualquer palavra.
“Então quer dizer que seus pais o pegaram se inscrevendo na minha academia de música, huh?”
“Ah, como o senhor sabia?”
Sohee arregalou os olhos, espantado, enquanto o professor ergueu o recipiente vazio e simplesmente mencionou que crianças da idade dele são muito transparentes, ou seja, seus rostos sempre os entregam sobre as coisas.
“E se nós praticarmos um pouco agora? Na verdade, eu estava a caminho da academia quando o vi por aqui. Esqueci de algo lá.”
Assim que terminou de dizer, o homem levantou e começou a caminhar.
(...) Estava pedindo para ser seguido? (...)
Sohee então se pôs em pé com agilidade e correu para acompanhar o passo do professor.
Os dois subiram as escadas do estabelecimento com os pés iluminados pelos flashs das lanternas de seus celulares.
O homem puxou uma chave, localizada no extintor de incêndio que ficava entre o 3º e o 4º andar, e abriu a porta pesada do lugar, que se arrastou pelo chão com um barulho estridente.
A poeira que havia ali, iluminada por seus celulares, brilhou como a via láctea.
O extintor também possuía sujeira, porém a área onde o anel de metal estava inserido antes se encontrava limpa.
“É aqui que eu guardo as chaves da minha academia. Venha praticar sempre que quiser.”
“Está tudo bem se eu vier?”
“Claro, mas isso é um segredo entre eu, que sou o dono, e você. Lembre-se de sempre trancar as portas quando sair.”
O professor entregou a ele o objeto e Sohee abriu a esquadria de vidro, que tinha o identificador “Academia de Música” escrito.
No percurso inteiro pelo vasto corredor, podia visualizar cartazes e posters autografados por diversos cantores pendurados nas paredes estreitas do canto esquerdo, como se fosse uma galeria de exposição, e portas fechadas alinhadas do lado direito.
Sohee foi até a extremidade, no final do ambiente, e ligou o disjuntor para acionar as luzes do estabelecimento.
Sob a iluminação amarela, uma enorme corrente de plenitude envolveu seu corpo.
O espaço era pequeno, do tipo que comportaria poucos adultos, mas para ele parecia grande como um vasto mundo.
Um lugar para ter a liberdade de fazer o que queria. Sohee ficou tão animado, que imediatamente conectou o celular ao amplificador.
Nem menos de dois segundos após pressionar o play, e a guitarra eletrônica começou a reverberar por ali.
(...) “Tem uma música que sempre escuto antes de competir. Sohee, seria bom se você também achasse uma canção capaz de fazê-lo se sentir melhor.” (...)
A pessoa que recomendou isso a ele uma vez foi Park Wonbin.
Wonbin esteve presente no dia em que Sohee escolheu “uma música que fará tudo ficar bem”, então, ao relembrar desse fatídico momento, ele se perguntou como o mais velho andava nos últimos períodos.
(...) Como será que o Hyung dele se encontrava? (...)
Devia ter questionado isso mais cedo, já que era tarde demais para enviar uma mensagem. Sem constar que, como ambos não se falavam há muito tempo, seria estranho iniciar uma conversa assim de repente.
Então, ao invés de enviar um texto a Wonbin para perguntar, Sohee emitiu um agradecimento verbal ao professor de música.
“Obrigado, professor!”
“Estará aberto para você a qualquer momento.”
(2) O melhor.
Wonbin, quando cruzou a porta, largou a mala no chão e se atirou na cama. O corpo se encontrava tão pesado, que quase se fundiu com o estofado macio.
Ele ficou apenas cerca de um mês fora, e, mesmo assim, a sensação de visualizar tudo por ali parecia esquisita, como se fizesse anos que não retornava para sua própria residência.
Podia sentir cada pulsar de seu tornozelo, envolvido por gesso e uma tala que ia até o seu joelho, e, quando tentou levantar a perna direita, deixou escapar um ruído alto pela dor latente que experimentou.
Olhou ao redor do dormitório.
O apartamento, que os pais dele providenciaram tempos atrás para incentivá-lo a focar nos treinos, o levou a perceber que a única coisa que mudou dentro daquele cômodo foi ele mesmo.
Se ergueu com dificuldade e caminhou até a frente da cristaleira, utilizando as muletas para obter melhor estabilidade. A mobília continha inúmeros troféus e medalhas que recebeu em competições de diferentes portes, cartas de declaração escritas à mão, que ganhou de fãs desconhecidos, e um buquê de frésias secas, assentado cuidadosamente ali dentro.
Foi por esta razão que ignorou a sugestão coberta de preocupação de seus pais, que disseram que poderiam remover tais objetos dali e que ele só precisaria ficar na casa oficial da família enquanto efetuavam isso.
Wonbin recusou, já que queria organizar suas coisas com as próprias mãos.
O olhar se fixou numa fotografia dele mesmo sorrindo abertamente em cima de um pódio, com os braços erguidos. Ela documentava a história por trás do dia em que obteve o melhor recorde na divisão juvenil.
“Quem se importa com isso agora.”
A frase afiada saiu da boca dele sem que sequer a controlasse.
Acabou. Tudo foi completamente arruinado para ele. Wonbin pensou, enquanto apertou as mãos com força. O rosto, refletido pelo metal prateado de um dos seus troféus, distorceu-se ao ponto de se assemelhar ao de um peixe mutante.
Ele não sabia o que faria a partir de então… A única coisa que teve certeza foi que jamais seria capaz de sorrir como antigamente, pois não haveriam mais motivos propícios para isso no futuro.
Tinha passado o dia inteiro deitado sem comer nada, com um enorme peso instalado em seu coração.
(...) Tudo bem. Ele achava que poderia ficar um tempo assim, repousando. (...)
E, então, Wonbin foi se atirar novamente, tornando-se imóvel, tentando sentir a própria frequência cardíaca.
O ato só serviu para deixá-lo mais irritado do que triste, desde que não acreditava que apenas percebeu a paixão que tinha por correr no momento em que se tornou impossibilitado de praticar o esporte.
Além disso, existia outra razão para estar com raiva:
O “eu” dele do passado, que deu tudo de si na fatídica competição.
Não devia ter se abaixado para pegar o bastão que deixou cair. E, no final, recordar que sua lesão somente aconteceu porque se recusou a desistir naquela hora o irritava muito.
Infelizmente, o atleta adversário estava correndo rápido demais e não conseguiu reduzir a velocidade antes de se chocar contra ele… O mesmo escorregou em direção ao Wonbin, que tentava recuperar o bastão que escapou das mãos, e ambos rolaram em seguida até o chão.
A próxima coisa que reparou, após poucos segundos do incidente, foi que seu tornozelo quebrou.
“Eu devia ter desistido naquela hora…”
Se virou de barriga para cima na cama, permitindo que as lágrimas escorressem livremente até o travesseiro.
Graças ao ocorrido, ele agora precisava encarar o fato de que seu desejo de se tornar um atleta olímpico foi completamente destruído.
Wonbin presenciou ali, naquele momento, seu sonho ser fragmentado em diversos pedaços. O ruído imaginário que escutou, de algo se destroçando dentro dele, soou mais doloroso do que o som real que seu tornozelo emitiu na hora que quebrou.
Foi como se o tempo cruel tivesse criado vida própria e viesse recebê-lo de braços abertos, fazendo com que todas as orações dele, que clamavam para que tudo não passasse de uma mentira no dia seguinte, fossem em vão.
(3) Vibração e tremor.
brr, brr, brr… Sohee despertou com uma vibração repentina ao lado, na cama. Franziu o rosto pela luz da tela do telefone, que refletiu direto em seus olhos antes de se acostumar, e piscou algumas vezes para checar as horas.
3:12 da manhã.
Era madrugada e, mesmo assim, diversas mensagens começaram a chegar sucessivamente na sala de bate-papo em grupo. A mesma foi criada para conversas sobre quaisquer besteiras, porém ele tinha saído do chat há pouco tempo, após anunciar a todos que faria isso.
Alguém, entretanto, o colocou de volta para dentro.
Sohee apertou o botão para deixar a sala de bate-papo outra vez e, quase imediatamente, recebeu a notificação de uma mensagem privada.
“Ei. Por que você está saindo?”
A pessoa que o enviou, dentre todos os amigos dele, era quem menos possuía intimidade, e também foi o principal motivo para que ele tomasse a decisão de sair do chat.
“Porque eu não tenho nada para conversar ali.”
Sohee enviou a justificativa com pressa e, em seguida, acrescentou:
“Por favor, não me coloque mais no grupo.”
A pessoa, a quem ele já pediu repetidas vezes para não enfiá-lo no chat, desapareceu então sem respondê-lo.
O citado devia ter se sentido ofendido pela maneira como ele escreveu acima, mas não havia nada que Sohee pudesse fazer a respeito. Não queria mais andar com esses caras.
Pouco tempo depois, inúmeros xingamentos de baixo calão começaram a aparecer na tela. Ele somente deletou um a um e bloqueou o contato.
O pensamento de se afastar desse grupo de amigos o deixou um pouco ansioso e o fez perder o sono.
E, subitamente, Wonbin veio a cabeça dele naquele momento.
(...) O que o Hyung dele teria feito numa ocasião como essa? (...)
Sohee tinha o hábito de refletir sobre como Wonbin agiria em determinadas situações, porque parecia que o mais velho sempre tomava boas decisões.
Era um ótimo amigo e Hyung para ele.
Ambos nasceram e foram criados no mesmo bairro, além das famílias serem muito próximas, portanto visitavam-se com frequência e tratavam-se como verdadeiros irmãos.
Se davam tão bem, que muitas vezes as pessoas, de fato, chegaram a confundi-los como primos ou irmãos de sangue.
Sohee nutria tamanho carinho por Wonbin, que não se incomodava em ser associado a um membro da família do mais velho. Gostava ao ponto de se espelhar até nas atitudes que o outro tomava.
Isso porque Wonbin parecia capaz de executar qualquer coisa com exímio. Era bom nas corridas que competia, no futebol, em tocar piano, em jogar e até em estudar.
Como estavam na mesma escola, percebia de perto a fama que o citado possuía entre os alunos.
Todos gostavam do mais velho, que carregava um charme que chamava atenção onde quer que passasse.
Sohee, enquanto criança, tinha o sonho de se tornar alguém tão talentoso quanto Wonbin.
Acabou adormecendo enquanto pensava no outro, cujo qual se encontrava sem manter contato há algum tempo.
Ele teve uma sequência de sonhos caóticos, que desapareceram assim que despertou de novo, pois já era dia.
Sohee deixou o quarto com o cabelo todo desgrenhado.
A mãe dele, que estava no telefone, ficou surpresa ao reparar que o filho saiu da cama sozinho, sem precisar ser acordado. Tudo porque ele sempre dormia demais, logo batalhava para ficar em pé todas as manhãs.
No mesmo segundo em que ele se servia um copo d’água, a mulher, que permanecia no celular, se preparava para partir para o trabalho.
Ela, de repente, perguntou algo para a pessoa do outro lado da chamada com uma expressão preocupada.
“E como está Wonbin?”
Tais palavras fizeram Sohee, que se distraiu um pouco, voltar à realidade.
Ele limpou a garganta lentamente e prestou atenção na discussão que rolava na ligação, e, quando a mãe dele desligou, questionou o que aconteceu.
“Você estava falando do Wonbin-hyung? Porquê?”
“Wonbin ficou gravemente ferido na última competição. Descobri agora, porque fiquei um tempo sem receber notícias dos pais dele.” A mulher então suspirou com pesar e acrescentou. “O que podemos fazer para ajudar?”
“Os pais dele disseram que, por causa da lesão, a carreira dele como atleta está comprometida… Sohee, você não quer entrar em contato com ele? Vocês costumavam ser próximos no passado.”
Ele balançou a cabeça em afirmação para ela e voltou para o próprio quarto.
Se sentiu ansioso pela notícia repentina de que o mais velho estava machucado, além da possibilidade deste talvez não ser capaz de seguir a carreira como atleta, e um pouco incrédulo.
(...) O que seria do Hyung dele a partir de agora? (...)
²Nós estamos presos dentro das nossas mentes: A frase original em coreano é: 서랍 속 우리는. O significado literal dela é “Nós estamos dentro de uma gaveta”, porém subentende-se que a palavra gaveta, no contexto apresentado na história, está associada à “mente” humana. Esta tese é sustentada pelo “Complexo de Jonas”, de Abraham Maslow, um renomado psicólogo humanista. O complexo, em uma breve explicação, se refere “a uma pessoa que sente medo de mudanças, de sucesso e, por conseguinte, medo de ser rejeitado. Ou seja, vive num comodismo, em sua zona de conforto.” As gavetas, neste caso, são utilizadas de maneira figurativa. Num resumo mais sucinto: Cada ser humano possui uma gaveta, e ela é preenchida no passar do tempo com memórias, que vão evoluir para lembranças daqui alguns anos. Assim sendo, pode-se concluir que as gavetas, no caso do subtítulo desta web novel, significam as próprias mentes deles. Eles estão com os próprios sentimentos aprisionados, ou enclausurados, dentro das próprias mentes. Coreanos utilizam com frequência a analogia.

