"Realtime Odyssey" 1º Temporada - Capítulo 2

Rise & Realize

© Web novel produzida pela SM ENT. e serializada pela Kakao Page.

     Tradução, adaptação e revisão do Coreano para o Português (Brasileiro) dos textos e das ilustrações foram feitas exclusivamente pela equipe da RIIZE BRAZIL.


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¹Uma odisseia em tempo real: Odisseia tem sua etimologia atribuída ao nome “Odysseus”, pertencente a um herói grego, rei de ítaca, que foi batizado pelos latinos de Ulisses. O termo popularizou-se graças a um famoso poema épico, escrito pelo poeta Homero, que contava a trajetória do herói mencionado através de 24 cantos ou rapsódias. A palavra odisseia possui, desde a sua origem na antiguidade clássica, sinônimo equivalente a “Uma história permeada por aventuras, contratempos e acontecimentos extraordinários”.


¹Realtime Odyssey - 1º Temporada.

Parte 1 - ²Nós estamos presos dentro das nossas mentes.

Capítulo 2

(4) Fingindo que está tudo bem.


A primeira coisa que Wonbin realizou, depois de tirar o gesso no hospital e voltar a poder caminhar normalmente, foi visitar os pais com o intuito de mostrar aos mesmos que estava feliz e saudável.


Como ninguém da família dele tinha sequer noção de que se sentia emocionalmente abalado, todos ficaram conversando a respeito de assuntos cotidianos com expressões despreocupadas estampadas nos rostos.


Os diálogos variaram entre os programas de entretenimento que passavam na TV, no caso os que foram exibidos há poucos dias, e sobre como o pequeno filhote que a cachorra do vizinho deu à luz era fofo.


“Ah. Sohee se matriculou numa escola de música recentemente, com o dinheiro que recebeu de um trabalho de meio período que arranjou. A mãe dele teme que ele não consiga gerenciar o emprego com os estudos.”


A progenitora de Wonbin disse, distraída.


“Escola de música?”


“Sim. Sohee tem parecido meio “sem rumo” ultimamente. Lembro que ele até chegou a dizer uma vez que queria ser corredor como você…”


Ela complementou e, em seguida, mudou de assunto.


“Você comeu todos os acompanhamentos que eu enviei? Você precisa comer bem para que a sua recuperação não seja tão difícil. A propósito, sua avó me trouxe maçãs. Leve algumas com você.”


A mulher então levantou para vasculhar o compartimento específico para legumes, vegetais e frutas da geladeira, retirando alguns desses alimentos.


“Já que você mencionou Sohee… Não consegui manter contato com ele desde que começaram os treinos. Nos encontramos poucas vezes na escola, mas vou tentar falar com ele mais tarde.”


Ele se esforçou para tocar na equipe de atletismo com causalidade. 


Tudo porque, por mais que tentasse fazer parecer que estava bem e que não se importava com nada, Wonbin somente conseguia se sentir pior do que antes.


Naquele momento, desejou se tornar uma pessoa invisível.











Depois de jantar com a família pela primeira vez em muito tempo, Wonbin se preparou para retornar ao próprio apartamento.


“Já disse que posso levá-lo até lá. Tem muita coisa para você carregar… Você sabe que não deve abusar da sua perna.”


“Não precisa. O trajeto de ônibus é curto.”


Ele se recusou a aceitar a carona, insistindo em se despedir da mãe dele.


“Eu estou bem, Omma… Não precisa se preocupar, ok?” Sorriu abertamente para transmitir veracidade a ela, e então a mesma finalmente concordou, dando um passo para trás para que pudesse caminhar.


A matriarca o mandou colocar os acompanhamentos na geladeira assim que chegasse em casa, tomar cuidado quando fosse cortar as frutas e retornar para visitá-la na frequência que quisesse.


Ele só assentiu para tudo isso com pressa.


Assim que pisou em seu apartamento, correu para guardar os alimentos tal qual a citada falou mais cedo.


Se sentiu culpado por ter mentido e por ter que jogar fora a comida que havia ali, que estragou desde que não a ingeriu, porém achou que inventar que a consumiu era melhor do que deixar seus pais preocupados.


Fez uma promessa interna de se alimentar melhor dali para frente, enquanto empilhava os potes nas prateleiras do refrigerador vazio.


(...) Sohee se matriculou numa escola de música? (...)


O assunto de mais cedo veio a mente dele de maneira repentina, e associar o pequeno Sohee, que o seguia para todos os lugares possíveis quando jovem, a figura atual do mais novo, que contrapunha todas essas atitudes que o outro já tomou no passado, o levou a soltar uma gargalhada alta.


Ambos eram muito próximos até entrarem no ensino médio… Acabaram se distanciando depois dele ter sido aceito na equipe de atletas e se tornar super ocupado com os treinos.


Sohee até estudava na mesma escola que Wonbin, contudo, graças aos horários e turmas diferentes, o número de vezes em que se encontraram lá poderia ser contado nos dedos.



Filho! Cuide da sua saúde. Te amo




 Ele sorriu quando leu o bilhete que a mãe dele deixou numa das caixas que o entregou para levar para casa, e fixou o recado com um imã num local que ficasse próximo de seus olhos na geladeira.


O pedaço de papelão tinha o tamanho aproximado de uma caixa de tênis de corrida, e foi inteiro decorado com o personagem animado favorito de Wonbin.


(...) O que havia dentro dela? (...)


Ele a chacoalhou um pouco, para tentar identificar através do som dos objetos que tinha ali dentro colidindo, sentou no sofá e abriu.


Continha dois pequenos cadernos, um arranjo de fotos individuais dele e cartas de seus amigos. Examinou cada uma das imagens com cuidado, percebendo que foram organizadas de maneira cronológica, com recordações que iam do seu jardim de infância até a época em que estava no ensino fundamental.


Uma em específico, onde ele tentava soprar as velas do bolo de aniversário com a maior força que possuía, o arrancou uma nova risada.


Soou engraçado porque suas bochechas pareciam hilárias, infladas daquele jeito para acumular ar suficiente para assoprar as velas, e também porque reconheceu que Sohee era o pequeno garotinho que chorava de boca aberta ao seu lado na cena daquela fotografia.


Bem na hora que iria se emocionar pelas recordações que recebeu da infância, algo caiu no colo dele.


Um “certificado”, feito com folhas grossas, com marcas de cola na borda que confirmavam que o papel foi unido até ficar com aquela espessura.


Ah, era aquilo. O tal certificado tinha a palma de uma mão desenhada e a caligrafia torta de Sohee escrita.



Certificado.


Dedico este prêmio ao melhor Hyung do mundo: Wonbin-hyung.

Espero me tornar alguém tão maneiro quanto ele no futuro.


Assinado Sohee.



(...) Como será que Sohee estava, após ambos terem ficado tanto tempo sem se falar? (...)


A recordação o tornou curioso a respeito do mais novo.


Entretanto, hesitou um pouco em mandar mensagem quando percebeu que, devido ao longo período em que perderam contato, apenas lembrava de Sohee como a criança brilhante e promissora do passado.


Wonbin só conseguiu juntar coragem suficiente para seguir com a ideia porque o mesmo era uma pessoa que ele tinha intimidade.


“Ei, Sohee. Como tem andado por aí?”


A mensagem foi visualizada rapidamente.


Wonbin esperou pela resposta com um certo nervosismo, todavia, mesmo depois de vários minutos, não recebeu uma palavra sequer de volta.


Não soube descrever o sentimento que experimentou por isso. Parecia ficar numa linha tênue entre a traição e a tristeza.









Ele não conseguiu dormir direito naquela noite, pois ficou entrando e saindo de um loop que o transportava para o passado, presente e futuro.


Pensamentos intrusivos prejudicaram seu sono, e Wonbin decidiu que culparia a luz da lua que irradiava pela janela, desde que chegou a encomendar cortinas melhores para cobri-la meses atrás, mas estava enrolando para instalá-las por pura preguiça.










Dias depois, ele finalmente as colocou no lugar.


As mesmas tinham blackout, feitas de um material grosso, logo barraram muito bem qualquer incidência de iluminação que poderia vir da esquadria.


Então, mesmo no período de meio dia, o apartamento dele mergulhava numa escuridão profunda, em que apenas a luz vermelha, emitida pelo alarme de segurança, piscava para indicar a presença de alguém ali.




(5) Resposta tardia.


Sohee não conseguiu se concentrar direito na aula de canto do dia. Parecia que quanto mais se esforçava para focar na atividade, pior a pronúncia dele ficava e o controle ruim de respiração o levava a sair do ritmo.


“Por que você está tão distraído hoje? Aconteceu alguma coisa?”


O professor perguntou de forma incisiva, deixando claro que o mais novo poderia enganar os ³fantasmas ali da sala, mas jamais seus olhos de águia.


Sohee não respondeu nada, mesmo que internamente soubesse a causa por trás da sua falta de atenção, e nem precisaria, visto que ficou nítido que algo de errado havia ocorrido consigo de fato.


Na verdade, existiam múltiplas razões para a sua falta de foco: Seus pais serem contra o sonho de se tornar um artista, ter se afastado dos amigos por conta própria e deixado o chat de conversa, não conseguir coragem suficiente para responder a mensagem de Wonbin até agora, e a imensa preocupação que sentia pela lesão do mais velho.


…Ainda seria capaz de listar outros 100 motivos que o atormentavam.


E, em decorrência disso, Sohee pensou que choraria de frustração. Não obter um bom desempenho no canto, que é a coisa que melhor possui capacidade, o levou a considerar esse momento super estúpido.


“Vamos fazer uma pausa de 10 minutos.”


O professor apertou o ombro dele, num ato de solidariedade, e deixou a sala, enquanto ele franziu o rosto numa expressão de choro.


Quando sozinho, Sohee apertou os punhos para descontar a chateação.


“Hum, hum.” Limpou a garganta, colocou o fone de ouvido e ligou a música que sempre escutou nessas ocasiões. A mesma sempre o fazia se teletransportar de volta para o passado, para uma recordação muito específica.


No início do ano anterior, ele estava caminhando pelo pátio da escola que estudava com os amigos, quando ouviu uma voz chamando seu nome.


“Sohee!”


Virou com pressa ao escutar o grito e percebeu que era Wonbin, acenando com uma das mãos alguns metros mais à frente.


“Hyung!”


Ele correu para encontrar o mais velho com extrema felicidade, pois era a primeira vez que os dois se viram após ele ingressar na mesma instituição de ensino.


“Tinham me falado que você viria para essa escola, e aparentemente isso era verdade. Como tem andado?” Wonbin comentou, acariciando a cabeça dele, antes de acrescentar outra pergunta.


“São seus amigos?”


O mais velho devia ter reparado que havia um grupo de garotos esperando por ele à distância. E, assim que Sohee concordou, curvou o rosto em apreensão.


“Eles são caras legais.” Defendeu seus amigos sem sequer perceber.


Embora estivesse andando com aqueles meninos por poucos dias, Sohee não queria que Wonbin se preocupasse com quem ele criava amizade, e, por algum motivo, também se sentiu um pouco envergonhado pela situação.


“Err, então… Acho que vou até a sua casa mais tarde, para a gente fazer alguma coisa. Não vejo a tia há um baita tempo.”


Wonbin sorriu em concordância, e, em seguida, teve que se despedir porque precisava se preparar para um treino. Sohee o encarando caminhar para longe por um longo período.


Parecia que quanto maior o desempenho do mesmo no esporte que praticava, mais este reluzia em momentos como aquele, em que se locomovia com pressa a algum determinado ponto. O mais novo pensou que Wonbin andou com a maior agilidade do mundo quando se afastou dele.


Os amigos de Sohee não demoraram a ir até onde ele se localizava depois disso, enchendo-o de perguntas curiosas.


“Você é próximo daquele Sunbae?” Um deles o interrogou automaticamente.


“Como você conheceu esse Sunbae? Vocês são amigos?”


“Nos conhecemos desde a infância.”


Como Wonbin era popular e apareceu diversas vezes nos jornais da escola, os garotos se tornaram muito interessados na amizade íntima que ele mantinha com o mais velho.


Sohee se sentiu feliz em compartilhar, mas ao mesmo tempo isso o trouxe um pouco de culpa pela atenção que obteve unicamente graças à proximidade que possuía com o outro. Então, tomou a decisão de parar de comprimentar Wonbin nas vezes em que o enxergou pelas dependências da escola.


No próximo dia em que avistou o citado de longe, fingiu não tê-lo visto.








Hoje em dia, assim que encontrasse o mesmo novamente, diria que não era mais amigo daqueles caras do passado.


Também acrescentaria que agora tinha um grande sonho, e que arranjou um emprego de meio período para ajudar a realizá-lo.


Imaginou que Wonbin ficaria orgulhoso em ouvi-lo dizer tais palavras, tanto que o elogiaria em resposta com um “Sohee, isso é muito legal!”.


Porém, por alguma razão estranha ele ainda sentia medo de falar com o Hyung dele. “Como está o seu machucado?” Embora soubesse que possuía intimidade suficiente para questionar esse tipo de coisa, não pôde deixar de se tornar relutante.


“Desculpe, esqueci de te responder antes. Ouvi notícias suas pela minha mãe. Como você está?”


Era uma resposta super tardia a mensagem de Wonbin, que perguntou sobre o estado dele dias atrás… E, para piorar, Sohee a considerou séria demais, portanto a apagou antes de clicar em enviar.


“Aff, eu nem sei o que colocar. Vou deixar para fazer isso depois.”


Ele saiu da aba do aplicativo de conversa e aumentou o volume da música que estava ouvindo.


thum, thum, thum… Seus olhos se fecharam enquanto apreciava o ritmo.


²Nós estamos presos dentro das nossas mentes: A frase original em coreano é: 서랍 속 우리는. O significado literal dela é “Nós estamos dentro de uma gaveta”, porém subentende-se que a palavra gaveta, no contexto apresentado na história, está associada à “mente” humana. Esta tese é sustentada pelo “Complexo de Jonas”, de Abraham Maslow, um renomado psicólogo humanista. O complexo, em uma breve explicação, se refere “a uma pessoa que sente medo de mudanças, de sucesso e, por conseguinte, medo de ser rejeitado. Ou seja, vive num comodismo, em sua zona de conforto.” As gavetas, neste caso, são utilizadas de maneira figurativa. Num resumo mais sucinto: Cada ser humano possui uma gaveta, e ela é preenchida no passar do tempo com memórias, que vão evoluir para lembranças daqui alguns anos. Assim sendo, pode-se concluir que as gavetas, no caso do subtítulo desta web novel, significam as próprias mentes deles. Eles estão com os próprios sentimentos aprisionados, ou enclausurados, dentro das próprias mentes. Coreanos utilizam com frequência a analogia.


 ³Fantasmas: A título de curiosidade, a construção original da frase, adaptando para o Português, seria algo semelhante a “Você pode enganar o fantasma (que provavelmente “estava na sala”), mas não os meus olhos.” No sentido de “Você pode enganar os outros, mas não a mim.” Mantivemos o “fantasma” para deixar fidedigno a narrativa original.


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